terça-feira, 30 de agosto de 2011

Desejo sem pudor.


Vem pra cá, me pega. Ocupa esse espaço vazio, entre você e a minha cama que te chama, com esse calor que transpira do teu corpo vil.

Vem, não se intimide. Minha pele te deseja, meus olhos te perseguem, minha boca quer escorregar pelo teu corpo nu.

Chega mais, me arranque delírios. Sinta meu suspiro no teu dorso, beija minha nuca, siga com esses beijos o caminho que o meu queixo aponta até os meus pés, sem esquecer um canto se quer.

Seja meu, por inteiro. Entregue-se a essa delícia que é o desejo sem pudor, apenas coberto pelo nosso imenso amor.



Franciélle Bitencourt.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Renasci.


Edição: Bárbara Speck


E quando você percebe, está no fundo do poço, bebendo a água que cai da chuva, se alimentando das migalhas que te jogam. Tudo isso porque desde que passou a se entender como gente, decidiu que nada deveria ser maior que o amor pelos outros, que a sinceridade, que a própria honra do ser humano e que assim, quando alguém lhe batesse na cara, devería oferecer a outra face. Uma, duas, três, centenas de vezes. E passa a engolir um sapinho ali, uma rãzinha acolá, quando vê está engolindo cobras, crocodilos e lagartos. E até o amor próprio, por inteiro. Vai esquecendo o que é lutar, tudo porque acha que independente de qualquer coisa, o bem deve sempre prevalecer, nem que para isso tenha que passar por cima de si mesmo e pensa: “Ah! A minha consciência está limpa, a minha alma dorme em paz!”. Sim, isso é verdade, uma bela verdade. Mas também uma dolorosa e árdua verdade. São poucos os que se dedicam pelo próximo, que não deixam o poder subir a cabeça e que não pisam, cospem, estraçalham aqueles que um dia foram seus amigos de verdade. São raros os que não se deixam abraçar pela cobiça, pelo capitalismo exacerbado, pela fome do querer material e que não se esquecem do amor, da amizade, da solidariedade, da ética.

E quando você menos percebe já não se encontra mais, não se reconhece mais, não se aceita mais, no meio dessa luta incansável contra a falta de amor. E se da conta que não resta mais nada, ou quase nada, apenas a certeza de que se não fizer algo por si mesmo, ninguém vai fazer. E vai acabar continuando ali, no fundo daquele poço. Isso porque você é contra a maioria que rema sempre apenas ao seu próprio favor, se esquecendo de olhar para os lados para enxergar que a felicidade está bem além do poder e da ganância e que é mais simples e atingível do que se possa imaginar. É só arrancar o cabresto da ignorância dos olhos.

Mesmo com o mundo conspirando contra, você vai aprendendo a passar por cima da mágoa, da sujeira, do veneno, do mal. E se esforça, sai da rotina, se permiti novas possibilidades, novas descobertas. É difícil, porque o ego está machucado, ferido, dilacerado, e a rotina por mais dolorosa que seja é mais certa do que a incerteza do tentar. Mas passa a se olhar no espelho com mais amor, mais cuidado, mais atenção. E repete, repete a si mesmo que ninguém tem o direito de machucar você, ninguém tem o direito de passar por cima de você e vai à luta. De cara limpa, apenas coberta de vontades, e se permite arriscar, inovar, se amar. Mas sem nunca deixar a honra de lado, a sutileza, o olho-no-olho. Não é desculpa dizer que se tornou uma pessoa amarga porque os outros te fizeram assim. Tem-se que olhar para os lados e continuar a lutar pelos seus objetivos, mas sem passar por cima de ninguém. Principalmente de si mesmo.

Hoje, depois de muito me perder, decidi mudar. Coloquei Two Kinds Of Happiness pra tocar, bem alto. Cantei, gritei, chorei, sorri, senti o mundo todo em fração de segundos. Esvaeci. Libertei-me. Renasci. Até quando eu não sei, mas sei que essa vontade pela vida, que grita aqui dentro do meu peito, está me mostrando pelo que eu realmente devo lutar.


Franciélle Bitencourt.