Ela. Ele. II

Respira. Suspira. Ofega. Paralisa. Desliza. Geme. Respira. Entorpece. Cheira. Sente. Apalpa. Lambe. Geme. Respira.
Por instantes, todo o existir se resumia a esse exato momento. Ela não queria que isso se perdesse por nada nesse mundo. Não naquele instante.
Ele mapeava a geografia dela na penumbra, com a ponta de todos os dedos, suavemente, como se já conhecesse cada região daquele mundo que pertencia somente a ele. Ela respirava o ar que ele expirava, roçava seu rosto no dele, sentia o gosto do corpo que era entregue a ela ali, sem pudor nenhum. Ela precisava sentir que fazia parte dele. Ele precisava mostrar que não conseguiria viver sem ela.
Não se falava nada. As mãos, a língua, o corpo, falavam por si. Tudo era instintivamente interligado. Tudo se encaixava. Quando os lábios resolviam emanar algo, ressonava somente "eu te amo" pelo ar. Não havia mais o que falar. Os atos se responsabilizavam por dizer o resto.
Todo aquele entrosamento não se perdia com o tempo, na verdade, só crescia, reflorescia, se revigorava, se multiplicava. O frio só dizia que os seus corpos haviam de se manter alí, colados. Para ela, nenhuma coberta no mundo substituiria aquela de orelhinhas, que possuísse um coração que batesse somente por ela. Ele tinha o dom de sentir e pensar a mesma coisa.
Eles sabiam que há tempos eram um só.

Um mais um era um. Pelo menos na matemática deles.

Franciélle Bitencourt.