sábado, 28 de agosto de 2010



"Saudades do tempo em que você tinha saudades de mim, ando tão cheia desse vazio de você..."


"As vezes é preciso dar um tempo, correr pra longe de todo mundo, pra ver quem vai correr atrás de você."


Clarisse Lispector

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Sou feita.


Hoje quero falar de mim e sobre o que eu penso em relação a algumas coisas. Não por egocentrismo, tampouco por narcisismo, ou qualquer outra denominação, que alguém possa querer dar, para esse momento que é somente meu. Apenas quero – preciso! - disso.

Sinto que tem muito de mim aqui dentro para ser exposto, para ser colocado para fora, que transborda tanto, de tanto ficar aqui, guardado, inatingível por outrem. Sempre tive a sensação de carregar o mundo dentro de mim e nem ao menos conseguir entender o que isso que dizer. O mundo que eu falo é o meu mundo - estranho, fantasioso, doce, nostálgico, só meu. A cada despertar do sol, eu tento aprender um pouco mais sobre as minhas complexidades, a me entender. Até converso comigo muitas vezes – Franciélle, reconstitua-se! Levante-te! Chega de fazer drama! - Sei que tenho que ser dura comigo, quase sempre, senão nem eu mesma poderia me agüentar!

Sou feita de muitas coisas, de muitos sentimentos, muitos momentos, muitas sensações, muitos suspiros, muitos olhares, muitos toques, muitos sonhos, muitos, muitos, muitos... Acho que é por isso que dói tanto às vezes, por tão pouco. Por mais que eu tente me expor, falar, escrever, gritar, às vezes até impor – Me escuta! Olha pra mim! Senta! Acomode-se, aceite essa xícara de café e me ouça, me entenda, ou pelo menos tente! -, o mundo se faz surdo as minhas palavras, e eu me calo, me canso - sem querer me cansar -, acabo deixando pra lá. Na verdade, acho um erro essa coisa de “deixar pra lá”, porque um dia a gente deixa uma coisinha aqui, no outro uma acolá, e quando a gente perceber, deixou passar tantas coisas - de todos os tipos de “coisas” que possam levar esse adjetivo -, que o ressentimento, a mágoa daquele momento, passa a se tornar rotina dentro de si, a doçura e a inocência passam a dar lugar a um buraco feito pelas tentativas de esquecer o que continuava ali, inflamando. Mas “deixar pra lá” é, na maioria das vezes, mais cômodo, todo mundo sabe disso.

Eu gosto de sentir, de analisar, de me dar ao extremo, de me colocar no lugar da outra pessoa a ponto de sofrer pelo que ela sofre. Eu gosto de ser assim. Parece até que eu gosto de sofrer. Talvez possa ser isso, mas duvido que alguém consiga aprender mais com o amor do que com a dor. A dor fortalece, revigora, faz-te confiante, molda-te para novas situações, faz-te crescer para aí sim, dar-se lugar ao amor.

E por falar em me dar ao extremo, eu acho que nunca passei um dia da minha vida sem me dar para alguém. Eu não sou de emprestar, gosto de dar. Quem é que não precisa de colo, de um ombro, uma palavra de conforto, de um sorriso, de um olhar de compreensão, de um aperto de mão sincero, de uma carta, de um beijo, de um carinho, de, de, de... Quem? Dar é se entregar aos outros de corpo e alma, sem pensar em recompensas, sem pensar em receber algo em troca, sem ter maldade no coração. É simplesmente querer ver alguém um pouco mais feliz.

Mas talvez, eu esqueça que a maioria do mundo não pensa assim, que nem todos os seres têm a idéia de que se nos doarmos uns aos outros a nossa vida se torna mais leve, mais doce, mais amena, e talvez por isso eu acabe ficando, quase sempre, sem mim.

Tirei um peso, daqui, de dentro do meu mundo.



Por: Franciélle Bitencourt.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ironia.


A idéia de que todas as vontades, supostamente verdadeiras, eram intactas, dúcteis e imutáveis permanecia na minha existência e era algo certo, irrevogável. Pensava poder analisar os fatos com alguma sabedoria, que já havia sentido tudo (ou quase) relacionado a sentimentos na minha vida e que as minhas escolhas, bem pensadas, eram certas, retilíneas. O cristal se quebra, a decepção com o meu eu vêm à tona. A dor maior é ver a verdade, a minha verdade, escorrendo por entre os dedos, e por mais que eu tente segurar, o esforço será em vão. Aqueles sentimentos de exatidão, de ser completo, de felicidade certa, se esvaem, saem pelos meus poros. Ouço os ruídos da dúvida, mas tento fingir que nada existe ali, que o controle está em minhas mãos e que o caminho percorrido é o certo. Ironia do destino. Tento me convencer de que esses medos, anseios e desejos se dissiparão; que a rotina me trará o chão de volta e que a minha vida nunca escorreu sobre meus pés.





Por: Franciélle Bitencourt.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Segunda primeira vez.



Faltava um pouco mais de meia hora para que seu ônibus passasse. Maria Luiza estava apreensiva, só tinha esse tempo para conhecer a família dele, era a primeira vez que ia à casa dos pais do seu namorado. Apenas dera um “oi, tudo bem? Prazer, Maria Julia” e logo em seguida todos foram se retirando de casa, por algum motivo qualquer. Primeiro saiu o pai dele, dando a desculpa de que tinha que se encontrar com alguns amigos. Logo em seguida, a mãe e a irmã também se desculparam, dizendo que já haviam marcado de irem ao shopping mais cedo. Em questão de dez minutos, só estavam ela e o cara que acreditava ser o homem da sua vida, ali, sozinhos.

Maria Luiza tinha 14 anos, era uma garota diferente. Desde cedo já se percebia que ela não poderia ser comparada as garotas da sua idade. Tinha pele clara, os cabelos escuros, as expressões do seu rosto eram delicadas. Não se podia dizer que ela era uma garota linda, de acordo com os padrões convencionais, mas tinha uma beleza diferente, não era feia. Peculiar e exótica eram as palavras certas. Por onde passava arrancava olhares, mas não podia ser comparada. Tinha um ar de doçura, mistério e inocência que emanavam do seu semblante. Apesar de todas as dificuldades que enfrentara até ali com a separação dos pais, morte da avó que tanto amava, falta de dinheiro, perdera também sua melhor amiga em um acidente de moto e cuidava da casa e da irmã mais nova, enquanto sua mãe trabalhava das oito horas da manhã até as oito da noite, como funcionária de uma repartição pública na cidade; gostava de como era e da vida que levava. Desde cedo começou a se cuidar sozinha, deve ter sido isso que a obrigou a amadurecer precocemente. Como conseqüência, aos 14 anos já se achava madura o suficiente para ter um relacionamento mais sério. Não que já tivesse tido algum tipo de relacionamento, mas pensava assim.

A "garota das expressões delicadas" conheceu Otávio em um dos shows de rock que aconteciam pela cidade. Ele foi apresentado para ela, por uma amiga que os dois tinham em comum. Otávio mais velho, com 18 anos, tinha algo que deixara Malu - apelido dado por sua mãe quando era pequena – impressionada. Até hoje ela não sabe explicar o que era, mas sabia que havia se sentido atraída por aquele rapaz.

Conversaram por algumas horas. O assunto principal da noite foi música. Eles perceberam que tinham um gosto muito parecido relacionado a isso. Otávio gostava desde MPB até músicas mais pesadas como algumas bandas de Death/Black Metal. Maria Luiza não fugia muito disso, apenas trocava o Death Metal por Pós Punk anos 80. O clima, a vodka, as latas de cerveja, a música “I wanna be sedated” dos Ramones tocando de fundo, embalaram o primeiro beijo dos dois. A noite que passou em questão de minutos chegava ao fim. Antes de se despedirem, trocaram números de telefone. Aquela noite seria o começo de tudo, ou o fim.

Passaram a se encontrar com freqüência: cinema, praça, festas na casa de amigos. Mas o lugar preferido dos dois eram os shows de rock que aconteciam em casas noturnas, de quinta–feira a domingo, pela região. Logo perceberam que o envolvimento estava cada vez maior. Otávio viu que ali não tinha apenas uma garota de 14 anos sem conteúdo e fútil, mas sabia que no quesito relacionamento, Malu era mais inocente do que imaginava.

Toda vez que se encontrava com o "cara dos seus sonhos", Malu voltava eufórica pra casa, pensando em mil maneiras de mostrar para ele - sem parecer atirada e apaixonada ao extremo como qualquer garota faria, que aquela menina moça seria a melhor pessoa que ele poderia querer ao seu lado. O primeiro beijo, ah o primeiro beijo! Ela nunca havia ficado com um cara quatro anos mais velho que ela, na verdade, ela nunca havia beijado ninguém! Sempre achava que os caras da sua idade não tinham nada na cabeça e que não mereciam o seu interesse. Malu preferiu esperar alguém que realmente mexesse com ela e dessa vez ela havia encontrado.

Otávio por ser mais velho, já era mais vivido. Não pelo simples fato de ter quatro anos a mais que Maria Luiza, mas por ser um rapaz como qualquer outro, com alguns defeitos mais aguçados, outros menos, algumas qualidades relevantes, mas era um rapaz, tinha suas malícias. No passado Otávio havia se apaixonado por uma garota que se chamava Monica, e tinha certeza de que ela era a mulher da sua vida. Namoraram, viveu uma paixão intensa, mas a garota, sem explicação nenhuma aparente, o deixou, dizendo que eles não podiam dar certo e sem mais explicações, terminou o namoro e se mudou com os pais para outro país. Otávio se tornou um cara cheio de amarguras e ressentimentos, não conseguia acreditar que tudo aquilo que ele vivera não havia sido vivido por Mônica com a mesma intensidade. Colocou em sua cabeça que nunca mais se entregaria para nenhuma garota e que faria sofrer, quem fosse que se apaixonasse por ele.

Continua...





Pessoal, esse é a parte I do primeiro conto que eu posto aqui. Gostaria muito de saber a opinião de vocês, se estou indo pelo caminho certo ou não, se vocês estão achando interessante, se sentem vontade de ler o restante do conto, essas coisas. Críticas construtivas são sempre bem-vindas.

Espero que alguém esteja gostando e curioso para saber o desenrolar da história!

Um beijo na alma.