
Viu, menina? Eu lhe disse para não dar ouvidos pra ela. Eu sei que ela é envolvente, chega sorrateiramente, fica murmurando no seu ouvido como quem não quer nada – ou quase nada.
Eu sei que eu aparento sumir às vezes, mas faço isso pra ver até a onde a fé em você mesma é capaz de ti levar. Tem momentos em que eu ti vejo tão fraca, menininha, rendendo-se a todas as dores, pedras e sacrifícios que aparecem no meio do seu caminho. Se eu testo você é porque sei que és capaz. Não duvide disso, não dê ouvidos pra outra que não quer tanto assim o teu bem, minha doce menininha.
Vá! Usa essas asas que você mesma lhe deu e voe pra longe, bem alto e não tenha medo de cair! Caso isso aconteça, levante, sacuda a poeira das mãos, limpe os joelhos, erga-se novamente e se impulsione a voar de novo, quantas vezes for preciso! Mas pra cima, menina. Jamais se jogue pra baixo porque a outra falou, querendo dizer que no fundo é você que quer isso. Não a escute! Ela não é tão boa assim quanto parece ser. Eu sei que às vezes ela lhe pega pelas mãos, te leva pra um lugar bem alto, soltando papinho, passando por caminhos tentadores, agindo gentilmente e prometendo infinitas coisas, mas ela só quer te empurrar lá de cima e pra isso te coloca cara-a-cara com a outra face dela, lá em cima daquele abismo. E diz pra você pular, e diz pra você não ter medo, e fala pra você agir, te chama de covarde, te incentiva a cortar o ar sul e verticalmente.
Tira ela de perto de você, menina. Eu sei que a melancolia e o frio são atrativos pra você, mas olhe pra mim. Olhe pra você. Eu sou bem mais bela do que você imagina, do que você vê. Faço-lhe passar por situações únicas, nem sempre tão bonitas, mas que sempre te ensinaram a crescer, a ser e a moldar você. Abre um sorriso bonito, menina, e veja que a felicidade está a um palmo de você. Jogue-se com tudo pra cima de mim, minha menina, que apenas eu, vulgo Vida, posso mostrar o caminho de tudo que tanto anseias. Solta a mão da Morte, minha menina, e segure a minha, mas bem forte, que ainda tenho o mundo todo pra lhe oferecer.
Franciélle P. de Bitencourt.