quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Segunda primeira vez.



Faltava um pouco mais de meia hora para que seu ônibus passasse. Maria Luiza estava apreensiva, só tinha esse tempo para conhecer a família dele, era a primeira vez que ia à casa dos pais do seu namorado. Apenas dera um “oi, tudo bem? Prazer, Maria Julia” e logo em seguida todos foram se retirando de casa, por algum motivo qualquer. Primeiro saiu o pai dele, dando a desculpa de que tinha que se encontrar com alguns amigos. Logo em seguida, a mãe e a irmã também se desculparam, dizendo que já haviam marcado de irem ao shopping mais cedo. Em questão de dez minutos, só estavam ela e o cara que acreditava ser o homem da sua vida, ali, sozinhos.

Maria Luiza tinha 14 anos, era uma garota diferente. Desde cedo já se percebia que ela não poderia ser comparada as garotas da sua idade. Tinha pele clara, os cabelos escuros, as expressões do seu rosto eram delicadas. Não se podia dizer que ela era uma garota linda, de acordo com os padrões convencionais, mas tinha uma beleza diferente, não era feia. Peculiar e exótica eram as palavras certas. Por onde passava arrancava olhares, mas não podia ser comparada. Tinha um ar de doçura, mistério e inocência que emanavam do seu semblante. Apesar de todas as dificuldades que enfrentara até ali com a separação dos pais, morte da avó que tanto amava, falta de dinheiro, perdera também sua melhor amiga em um acidente de moto e cuidava da casa e da irmã mais nova, enquanto sua mãe trabalhava das oito horas da manhã até as oito da noite, como funcionária de uma repartição pública na cidade; gostava de como era e da vida que levava. Desde cedo começou a se cuidar sozinha, deve ter sido isso que a obrigou a amadurecer precocemente. Como conseqüência, aos 14 anos já se achava madura o suficiente para ter um relacionamento mais sério. Não que já tivesse tido algum tipo de relacionamento, mas pensava assim.

A "garota das expressões delicadas" conheceu Otávio em um dos shows de rock que aconteciam pela cidade. Ele foi apresentado para ela, por uma amiga que os dois tinham em comum. Otávio mais velho, com 18 anos, tinha algo que deixara Malu - apelido dado por sua mãe quando era pequena – impressionada. Até hoje ela não sabe explicar o que era, mas sabia que havia se sentido atraída por aquele rapaz.

Conversaram por algumas horas. O assunto principal da noite foi música. Eles perceberam que tinham um gosto muito parecido relacionado a isso. Otávio gostava desde MPB até músicas mais pesadas como algumas bandas de Death/Black Metal. Maria Luiza não fugia muito disso, apenas trocava o Death Metal por Pós Punk anos 80. O clima, a vodka, as latas de cerveja, a música “I wanna be sedated” dos Ramones tocando de fundo, embalaram o primeiro beijo dos dois. A noite que passou em questão de minutos chegava ao fim. Antes de se despedirem, trocaram números de telefone. Aquela noite seria o começo de tudo, ou o fim.

Passaram a se encontrar com freqüência: cinema, praça, festas na casa de amigos. Mas o lugar preferido dos dois eram os shows de rock que aconteciam em casas noturnas, de quinta–feira a domingo, pela região. Logo perceberam que o envolvimento estava cada vez maior. Otávio viu que ali não tinha apenas uma garota de 14 anos sem conteúdo e fútil, mas sabia que no quesito relacionamento, Malu era mais inocente do que imaginava.

Toda vez que se encontrava com o "cara dos seus sonhos", Malu voltava eufórica pra casa, pensando em mil maneiras de mostrar para ele - sem parecer atirada e apaixonada ao extremo como qualquer garota faria, que aquela menina moça seria a melhor pessoa que ele poderia querer ao seu lado. O primeiro beijo, ah o primeiro beijo! Ela nunca havia ficado com um cara quatro anos mais velho que ela, na verdade, ela nunca havia beijado ninguém! Sempre achava que os caras da sua idade não tinham nada na cabeça e que não mereciam o seu interesse. Malu preferiu esperar alguém que realmente mexesse com ela e dessa vez ela havia encontrado.

Otávio por ser mais velho, já era mais vivido. Não pelo simples fato de ter quatro anos a mais que Maria Luiza, mas por ser um rapaz como qualquer outro, com alguns defeitos mais aguçados, outros menos, algumas qualidades relevantes, mas era um rapaz, tinha suas malícias. No passado Otávio havia se apaixonado por uma garota que se chamava Monica, e tinha certeza de que ela era a mulher da sua vida. Namoraram, viveu uma paixão intensa, mas a garota, sem explicação nenhuma aparente, o deixou, dizendo que eles não podiam dar certo e sem mais explicações, terminou o namoro e se mudou com os pais para outro país. Otávio se tornou um cara cheio de amarguras e ressentimentos, não conseguia acreditar que tudo aquilo que ele vivera não havia sido vivido por Mônica com a mesma intensidade. Colocou em sua cabeça que nunca mais se entregaria para nenhuma garota e que faria sofrer, quem fosse que se apaixonasse por ele.

Continua...





Pessoal, esse é a parte I do primeiro conto que eu posto aqui. Gostaria muito de saber a opinião de vocês, se estou indo pelo caminho certo ou não, se vocês estão achando interessante, se sentem vontade de ler o restante do conto, essas coisas. Críticas construtivas são sempre bem-vindas.

Espero que alguém esteja gostando e curioso para saber o desenrolar da história!

Um beijo na alma.





3 comentários:

  1. Fran, eu adorei!
    Curiosíssima para ler a continuação.
    Parabéns :*

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  2. Flor to gostando muito.
    Continua logo, pois a curiosidade é grande :)
    Parabéns!

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