quinta-feira, 16 de junho de 2011

Sorrisos de dor.


Há quem diga que sempre vivi feliz, que todo palhaço vive em um mundo de fantasias, alegrias, peripécias e vida sem dissabores. Acontece que muito chorei – quase sempre internamente, muito me decepcionei por acreditar em quem não merecia, muitas rasteiras da vida levei, muito meu coração eu doei e por isso muito sofri, sei que no fundo fui mais bobo e sonhador do que deveria ter sido, que tentei me enganar dizendo que o mundo era melhor do que se mostrava, mas mesmo com todas as ironias da vida, sempre mantive firme a minha missão de alegrar a quem passava por ela e a me arrepender somente pelo que eu fiz, não pelo que deixei de fazer.

Admito que quando estava a caráter, posto de nariz de bolinha vermelho, maquiagem alegre, sapatos grandes e roupas coloridas, não era somente para alegrar quem me assistia, e sim para amenizar a dor da vida carregada nos ombros, por felizes, mas dolorosos anos de vida de palhaço machucado. Palhaço solitário e sonhador. Por mais que o mundo não pudesse ser um eterno picadeiro, cheio de sorrisos, surpresas, fantasias e magia, como eu sempre desejei que fosse, o meu chão era a alegria nos olhos de um menino que mal sabia o que era, o peso de viver. No fim, minha vida sempre foi feita de breves instante, intensos, mágicos, trágicos. Extremos instantes. Belos e atormentados instantes.

Quando fantasiado de palhaço, podia sorrir dos meus erros, derrotar as minhas incertezas, fazer tudo que o picadeiro me permitia, mas que a vida real fazia questão de me assombrar.

Por trás do rosto de eterno palhaço feliz, existia um homem feito de carne, ossos, alma ingênua e coração esperançoso. Sempre existiu apenas um acrobata do sofrimento, que por mais que a vida sangrasse no peito, o circo da fantasia não podia parar.


Franciélle Bitencourt.

Um comentário:

  1. esse texto é teu?AMEI esse texto Fran, com certeza um dos melhores sem dúvidas!

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