quarta-feira, 8 de junho de 2011

E sorri.


Clara acorda subitamente, como se lhe faltasse o ar. Parecia que havia levado um tombo, ou uma pancada no corpo, mas não sentia dor, muito pelo contrário. Viu que se encontrava na cama, do mesmo jeito quando se deitou para dormir. Suspirou forte, um tanto que assustada. "Que sensação mais estranha!" - pensou. Mas ao mesmo tempo em que voltava ao seu equilíbrio, sentia uma vibração boa. Não sabia explicar, mas estava bem e sem sono.

Levantou antes que o barulho do despertador cumprisse o seu propósito de acordá-la. Pôs a água ferver, foi se arrumar calmamente, afinal, havia acordado meia hora antes do habitual, sem esforço algum e por isso aproveitaria esses trinta minutos a menos de sono para se cuidar melhor de outro jeito. Estava se sentindo disposta. Estranhamente disposta.

Colocou o último brinco dos seis que usava. Preparou o café, entregou-se sem receio a aquele momento de introspecção. O silêncio pairava pelo ar, mente quase que vazia e uma sensação de preenchimento no peito a tomava por completo. Era esquisito aquilo tudo, mas era bom.

Fechou a casa e se pôs a caminhar. Quando sentiu o vento gelado, na descida de um morro, tomando conto do seu corpo, arrepiou-se. Fechou os olhos, respirou fundo e agradeceu por estar viva. E sentir. E viver. Não entendia bem ao certo porque estava fazendo aquilo, mas a necessidade de agradecer a Alguém - que não conhecia muito bem - por aquele momento, era maior do que a necessidade de entender os acontecimentos.

Chegou à parada do ônibus. Em menos de três minutos o mesmo chega. Enquanto sobe as escadas, uma senhora com seus dois filhos pequenos, sentada logo a sua frente, a sorri. Clara instintivamente lhe responde da mesma forma e, sorri gostoso. Quando mais a frente acha uma poltrona para sentar, logo pensa: "Devo estar ficando louca mesmo!" - e começa a rir de si mesma. Sentada ali, fica observando as vidas que passam diante dos seus olhos, através dos vidros da janela do ônibus. Sente-se incomodada. Ajeita-se na poltrona, muda as pernas de posição e esvazia a mente.

Vê que estava chegando ao seu ponto de decida e se prepara. Seguindo a fila dos que vão descer na mesma parada, outra mulher, agora um pouco mais moça, com o cabelo meio desajeitado, roupas simples, mas com um olhar brilhante lhe sorri, e ela novamente, instintivamente, lhe responde da mesma forma, e sorri. Clara fica tonta, sua visão turva. Desci do ônibus toda atrapalhada, confusa com aquilo todo.

Posto ao seu lado direito ,seu anjo da guarda, lhe sorri. Mas esse, ela não vê com os olhos. Clara suspira, senti um calafrio e, sua alma que viu o anjo o responde da mesma forma, e sorri.

Ela no impulso do resguardo, agradece. Sem entender o por quê. E sorri. Lindamente.



Franciélle Bitencourt.

4 comentários:

  1. Fran, eu realmente desejo e espero que você JAMAIS pare de escrever. Textos lindos e cheio de sentimento como os teus -e como este- são inspiradores não só pra gerar novos textos, mas também para seguir vivendo. Nos da uma motivação muito grande e um sentimento de vida sensacional. E foi isso que ele me causou. De fato, há algum tempo não atravesso meu melhor momento, mas textos iguais à esse nos motivam e nos faz erguer a cabeça e seguir em frente, sempre persistindo e querendo viver o melhor da vida.
    Repito: Espero que você jamais pare de escrever.

    Beijos, Fran! Se cuida.

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  2. Eu me vi nessa descrição.=]
    Sabe, as vezes é triste sermos tão...tão sensíveis,poetas,artistas,ligados aos sentimentos e significados como o ar que respiramos.
    Ai quando leio coisas maravilhosas de pessoas como você, me lembro que existe sim, pessoas como eu por ai, nas mesmas dores, amores, e com a mesma alma.


    Minha alma sorri pra você.

    Bjinhu
    ^^

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  3. Clara, outra Clara, um dia procurou por anjos e suas cores, suas auréolas e asas de alcance infinito. Deixou de saber que muitos são os anjos que derramam o sagrado nos laços e nos encontros. Anjos que se aproximam como todos nós...

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  4. Gostei dos teus posts, têm uma sutileza jovial.
    Parabéns.
    ^^

    E ah, você me conhece de algum lugar? Porque eu posso estar lembrada, vagamente.. rs

    Até logo!

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